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Bolsonaro mente no STF ao justificar medidas contra a imprensa no governo federal

Bolsonaro não apenas atacou a imprensa com xingamentos, mas colocou a máquina federal para ações concretas nesse sentido

Bolsonaro mente no STF ao justificar medidas contra a imprensa no governo federal

© Getty Images

Folhapress
11/06/2025 04:20 ‧ há 1 dia por Folhapress

Política

Justiça

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu nesta terça-feira no STF (Supremo Tribunal Federal) ao justificar medidas que tomou contra a imprensa nos quatro anos de seu mandato (2019-2022).

 

Em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro disse que as iniciativas não tiveram como objetivo minar os veículos de imprensa, mas buscar uma economia de gastos dentro do Orçamento.

"O senhor [Moraes] não imagina o que é trabalhar de domingo a domingo (...) e sendo massacrado o tempo todo por grande parte da nossa mídia. Porque não é que eu cortei a propaganda por maldade. É que eu tinha teto de gastos", disse o presidente.

Na prática, porém, o objetivo do então presidente não era econômico.

Como presidente de 2019 a 2022, Bolsonaro atacou diferentes veículos de imprensa, xingou jornalistas, escolheu as mulheres como o seu principal alvo, cancelou s de jornais, cortou verba publicitária, ameaçou cassar concessões e coagiu empresários para que deixassem de anunciar em órgãos de mídia.

Quando cancelou s e ameaçou seus anunciantes da Folha, isso logo no primeiro ano de seu governo, Bolsonaro violou os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade na istração pública.
"Eu não quero ler a Folha mais. E ponto final. E nenhum ministro meu. Recomendo a todo Brasil aqui que não compre o jornal Folha de S.Paulo", disse Bolsonaro.

"E os anunciantes que anunciam na Folha também. Qualquer anúncio que faz na Folha de S.Paulo eu não compro aquele produto e ponto final. Eu quero imprensa livre, independente, mas, acima de tudo, que fale a verdade. Estou pedindo muito?", disse a apoiadores na porta do Alvorada.

Dias depois, em uma live, o presidente disse que os anunciantes do jornal deveriam "prestar atenção". "Não vamos mais gastar dinheiro com esse tipo de jornal. E quem anuncia na Folha de S.Paulo presta atenção, está certo?"

Na ocasião, a Folha de S.Paulo respondeu em nota. "A Folha lamenta mais uma atitude abertamente discriminatória do presidente da República contra o jornal e vai seguir fazendo, em relação a seu governo, o jornalismo crítico e apartidário que a caracteriza e que praticou em relação a todos os governos."

Os ataques de Bolsonaro à imprensa e aos jornalistas não foram uma novidade em si com ele na Presidência. Esses já ocorriam nos tempos em que ele atuava na Câmara como deputado federal do baixo clero.

Na cadeira de presidente, porém, os avanços contra jornalistas específicos eram amplificados por seus apoiadores, que avam a perseguir os alvos tanto pessoalmente como nas redes sociais.

Como presidente, ele chegou a afirmar que o correto seria "tirar de circulação" veículos como a Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo e o site O Antagonista.

Em seu governo, a portaria do Alvorada, a residência oficial da Presidência, transformou-se um ponto de peregrinação de apoiadores e de ataques à imprensa. Os xingamentos partiam do próprio presidente e eram reverberados por seus simpatizantes.

A hostilidade cresceu, e alguns veículos de imprensa adotaram uma medida drástica. Folha, TV Globo e outros abandonaram a cobertura diária em frente ao palácio.

Os ataques a jornalistas no Brasil cresceram ano a ano sob Bolsonaro. Segundo a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), o crescimento no ano eleitoral de 2022 foi 23% em relação a 2021.

Em 2022, ano marcado pela dura disputa presidencial entre Bolsonaro e Lula (PT), ocorreram 557 ataques a jornalistas, meios de comunicação e imprensa em geral. No ano anterior, foram 453. A entidade identificou o envolvimento de membros da família Bolsonaro em 42% dos casos no ano eleitoral.

Bolsonaro não apenas atacou a imprensa com xingamentos, mas colocou a máquina federal para ações concretas nesse sentido.

No primeiro ano de seu governo, por exemplo, editou uma medida provisória para retaliar os jornais. A MP dava permissão a empresas de capital aberto para publicar seus balanços apenas no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou do Diário Oficial, em vez de veículos impressos.

Anúncios e balanços pagos eram uma importante fonte de receita dos jornais, estando aí a motivação da canetada do presidente.

O objetivo era o de ferir a imprensa, como ele mesmo itiu. "Para ajudar a imprensa de papel", disse em tom irônico diante de empresários do setor automotivo que riram de sua declaração.

Aquela MP de Bolsonaro atingiria em especial o jornal "Valor Econômico", do Grupo Globo, por ser um veículo focado em economia e, por isso, mais procurado para a publicação de balanços das empresas.

"Eu espero que o Valor Econômico sobreviva à medida provisória de ontem", afirmou, sem disfarçar a satisfação. "No dia de ontem eu retribuí parte daquilo que a grande mídia me atacou."

A medida provisória seria depois ignorada de propósito pelo Congresso para que expirasse e perdesse a validade.

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